Por Walter Sebastião
Matéria publicada no jornal Estado de Minas. Em ocasião da exposição Paisagem e Arquitetura, 07/02/2008.
Ao falar da mostra que está realizando na Casa dos Contos, em OuroPreto, o artista plástico Marcelo Albuquerque, de 31 anos, deixa escapar um“vale a pena ver a exposição, está bonita”. Que ninguém imagine só vaidade. De fato,a afirmação traduz satisfação. “A montagem está bonita, o local valoriza as obras e apresento uma síntese da minha pesquisa”, garante. São 12 aquarelas e quatro pinturas, seleção do realizado (“sem pressa”) nos últimos dois anos, cujo foco é a investigação da paisagem. O que, inicialmente, foi atenção ao geográfico, agora se volta para o arquitetônico, sem perder a dimensão de jogo com o real e o fictício, que se estende em comentário sobre arte e história.
“Ao pintar a paisagem,comecei a perceber o entorno, a cidade. E,instigado,fui estudar arquitetura e urbanismo, que são práticas que constroem a paisagem, tema tradicional das artes plásticas”, conta o artista.O resultado é uma série de cidades imaginárias, revelando conjuntos de edificações que evocam livremente a diversidade de estéticas da arquitetura. Lado a lado,nas obras, estão construções neoclássicas, ecléticas, modernas, art déco, pós-modernas. “É um passeio pelo fantástico, pela história. Jogo com símbolos, cores, formas extravagantes, pitorescas, absurdas”, completa, explicando que não está criando cidades ideais. “Gosto, apenas, quando a arquitetura tem relações com as artes plásticas.Cria ruptura com a produção especulativa, comercial, que torna a paisagem maçante.”
Marcelo discorda de quem vê crítica social nas suas obras, pela presença de favela se loteamentos, pois não é de levantar bandeiras. “Pela multiplicidade, minhas cidades talvez sejam um contraponto à cidade real. Prefiro propor em vez de só criticar”, observa. “Admiro a arquitetura artística e sinto falta dela na cidade.Aboa arquitetura revela cuidado na construção do ambiente”, completa,defendendo que arquitetos desenhem mais, estudem mais arte, e que artistas conheçam melhor a arquitetura. E elogia Éolo Maia, João Diniz, Gustavo Penna, Tadao Ando, Forster and Partners, entre outros, por produzirem obras que têm relação com as artes. E Amilcar de Castro, por entender a potencialidade da arquitetura. “Não sou arquiteto, mas adoro arquitetura”, avisa.
Com relação à sua linguagem, o artista explica que é pintura amparada pelo desenho (“não é a da matéria ou do gesto”), feita sem muito planejamento prévio (“parto só com a composição básica de equilíbrio”). Os edifícios foram sendo inventados ao sabor do momento, inspirados nos existentes, um depois do outro. “Um pouco como é a história da cidade, quando eles às vezes se atropelam”, diz. Sobre Belo Horizonte, Marcelo Albuquerque não esconde a irritação com a “destruição de arquitetura relevante para a nossa identidade para erguer edifícios de péssima qualidade”. Chega mesmo a defender um anexo do prédio da Sulacap, de forma a recompor a vista do viaduto de Santa Teresa e que é do projeto original da obra.