Além do horizonte

Por Walter Sebastião

Matéria publicada no jornal Estado de Minas. Em ocasião da exposição Nova Configuração da Paisagem, 17/10/2011.

Foto: Tulio Travaglia.

Vem de Marcelo Albuquerque uma das visões mais singulares da paisagem, que cruza muito da arte feita em Minas Gerais. São visões urbanas delirantes, colagens de vários estilos arquitetônicos. Seis obras do artista, incluindo duas aquarelas, serão mostradas a partir de hoje na Galeria do Fórum Lafayete. Agora o artista anda brincando com o corte das montanhas mineiras. “É ironia, não é denúncia de exploração nem militância ecológica”, avisa, argumentando que nem se interessa pela questão da desfiguração dos horizontes, porque, justifica, “são coisas da economia mineradora”.

O interesse confesso de Albuquerque é a paisagem cultural, a que é construída pelo ser humano. Ele explica: “Se tem uma montanha descendo, tem um edifício subindo. E loteamentos, bairros novos, ocupações desordenadas. Dentro de 50 anos, a paisagem que teremos ao nosso redor será completamente diferente da que conhecemos hoje”. As pinturas, continua o artista, fazem um diálogo consciente com vários modos de representar a paisagem–“ a pintura romântica, a impressionista, o lirismo modernista de Guignard e sua escola, o geometrismo, a arquitetura pós-moderna”, enumera.“Meu trabalho é ficção, com um pé no presente e outro em pesquisa, teórica e conceitual, sobre a relação do artista com a paisagem”, acrescenta.

As obras, segundo Marcelo Albuquerque, mexem com um símbolo de força e identidade de Minas Gerais: a montanha. Só que a mostra submetida a transformações, dilacerações, lapidações, que acabam gerando novos contornos. “O edifício, nas minhas pinturas,é o personagem que vai configurando novas identidades”, afirma. O artista observa ainda que se não há pessoas nas telas, a ação humana é essencial ao contexto que as imagens demarcam. Se já houve trabalhos em que ele pintava prédios que realmente existiam, hoje prefere usar construções imaginárias. Como diz, prefere se valer da memória, mais do que da foto.

Se a imagem acaba sendo “muito regional”, como explica o autor, por outro lado pontua questões que são universais.A série sobre a paisagem  cultural vem sendo realizada desde 2005, já tendo até agora cerca de 200 trabalhos, que podem ser vistos no site http://www.estudioalbuquerque.com. O que começou com registro das situações com desenho “mais rigoroso” de construções ocupando terrenos, hoje alterna esse enfoque com momentos mais expressionistas e até outros, seguindo ele,“compegada mais primitiva”. O artista tem aberto espaço para exploração da cor, aspecto que é, por sinal, tema do mestrado que está fazendo na UFMG.

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